quarta-feira, 28 de outubro de 2009

O Rato que curtia Pink Floyd


Rua Prado Lima,numero 4402. Era o meu endereço. Lugar onde eu passei a maior parte de minha vida com meus pais.
Depois que eles partiram, acabei ficando por lá por um tempo ainda,morando sozinho.
Meu quarto era meu santuario. Ligava o aparelho de som e ficava a viajar ouvindo meus vinis. Sozinho. Quer dizer,nao completamente sozinho. Tinha meu amigo fiel, o Jaffar. Pana que, embora ele estivesse sempre por perto,nao servia pra muita coisa na hora do dialogo. Eu falava,falava e ele dormia pesadamente. A compania canina de Jaffar nao era das melhores tambem na hora de ouvir uma musica. Deitava-se nos meus pés e pra ele era indiferente o volume do som.
E assim eram as noites no meu quarto.
Porem isto estava prestes a mudar.
Certo dia , ganhei de alguem um disco do Pink Floyd. Nele grandes hits na voz de David Gilmour. A noite,chegando em casa pus o disco pra rodar, e pra minha surpresa...
...Percebi que um par de olhos me observava curioso. Um pequeno par de olhos.
Baixei o volume do som, e estranhamente meu observador timido fugiu sem eu ver exatamente que era.
Na noite seguinte, novamente ,tronei a ouvir o disco do Pink, e em poucos segundos la estava ele de novo, espiando por um buraco...
fiquei imovel. O Jaffar nos meus pés nem preciso dizer que estava como uma pedra.
O emcabulado ouvinte resolveu se mostrar. Um rato. E nao era pequeno nao.
Saiu de sua toca, que dava para o forro da casa e desceu pela parede. De mansinho, por uma travessa de madeira,aproximou-se. E ali ficou, até o final do disco. Ou melhor...até um arranhao no disco impedir a continuaçao de Mother.
Dai ele saiu em velocidade retornando ao seu refugio.
Dali por diante, Gilmour, (apelidei ele assim, pois era somente com aquele disco do Pink que ele aparecia) tornou-se meu amigo pra ouvir Pink Floyd.
Era colocar Pink na vitrola que la estava ele. E cada dia mais ousado. Menos timido. Dava a ele migalhas de pão e outras coisas.
Mas um dia, Gilmour resolveu chegar mais proximo do que eu imaginava.
Ao som de Confortably Numb...ele desceu,fez seu trajeto costumaz. Porem, no exato momento em que iria até a porta, ele resolveu subir inesperadamente na cama. Proximo ao imovel Jaffar.
Nao tive tempo pra nada. Jaffar com uma velocidade incrivel abocanhou Gilmour. sacudiu ele com violencia...e depois soltou. Eu nada fiz , a nao ser olhar a cena que nao durou mais que dez segundos. O gosto musical de Gilmour acabou na boca de meu rotwailler.
Até gostaria de ter dado um enterro digno ao Gilmour, porem, o Jaffar achou que ele serviria como um tira-gosto. Nao estranhem nem se horrorizem com isto. A base culinaria de meu cão era constituida de alguns itens nao tao comuns, que ele abatia vez que outra, como, galinhas, ratos, gatos, e até mesmo outros cães de menor porte.
Na real, acho que o Jaffar nao gostava de musica. Ou era fã incondicional do Sid Barret...

Um comentário:

  1. O "Míltan" e suas histórias...não me surpreenderia se o narrador deste conto fosse o Jaffar, vc descesse de mansinho pela travessa de madeira e o pobre do Gilmour curtisse suas próprias músicas em viagens insólitas no teu quarto. O turco não muda!!!

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